

A história do Rádio
O COMEÇO DO RÁDIO
Rádio – radiodifusão. Qualquer transmissão que utiliza ondas de rádio. Estação de radiodifusão sonora. Aparelho receptor de radiodifusão. Onda de rádio, radiação eletromagnética de comprimento de onda superior a 1 milímetro. Radiodifusão, radiocomunicação cujas emissões são recebidas diretamente pelo público e que comportam programas sonoros ou programas de televisão. Difusão de programas unicamente sonoros – rádio. Assim o Dicionário Larousse, da língua portuguesa, define o que é rádio e radiodifusão.
O grande publicitário Washington Olivetto, em seu livro: Direto de Washington – Washington Olivetto por ele mesmo, nos fala sobre o seu sequestro:
No final do meu sequestro, quando percebi que tinha sido abandonado trancado num cubículo sem ar e que podia morre asfixiado, gritei pedindo socorro, dizendo “Chamem a polícia! Chamem os rádios!”, por saber que as rádios eram os veículos de comunicação mais instantâneo e, portanto, os que mais rápido poderiam providenciar socorro para mim.
Dias depois, na coletiva de imprensa sobre o sequestro, um dos repórteres presente me perguntou por que eu tinha gritado “chamem as rádios” e eu respondi resumindo meus sentimentos daquele momento: “Porque eu sou AM.”
A história dos meios de comunicações, está relacionado a Revolução Industrial que ocorreu aproximadamente entre: 1750 – 1850, gerando grande efervescência criativa no mundo do Século XIX. O sistema de transporte, trens e navios cresciam diminuindo as distâncias. As viagens de comércio e turismo aumentavam rapidamente e para mais segurança, os ingleses inventaram o telégrafo elétrico. Desenvolvido por Samuel F. B. Morse, e, 1837. Em 1844, foi instalada a primeira linha de comunicação por telégrafo, entre Washington e Baltimore – EUA. A empresa Western Union, monopolizava o serviço de telegrafia nos Estados Unidos.
Em 1866, são lançados cabos submarinos interligando os Estados Unidos e o Continente Europeu. As agências de informação começam a se estruturar, como a inglesa Reuters e a norte americana Associated Press (AP).
No final da década de 1870, Alexander Graham Bell apresenta para o mundo o telefone, que encantou Don Pedro II. Por falta de recursos associa-se a outras pessoas e fundam o que viria a se tornar a American Telephone and Telegraph (AT&T).
Enquanto isso, ainda nessa mesma década, James Clerk Maxwell faz experimentos com uma energia radiante e invisível. Após vários testes realizados em laboratório, Heinrich Rudolf Hertz demonstrou a existência da radiação eletromagnética, criando aparelhos emissores e detectores de ondas de rádio, constatando as teorias de Maxwell. Em sua homenagem a unidade de frequência no Sistema Internacional de Unidades é denominada hertz (abreviada como Hz) e batizou as ondas de rádio como Ondas Hertizianas.
Como o tempo não para, Guglielmo Marconi, em 1896, inventou o primeiro aparelho de telegrafia sem fios. Marconi vai para a Inglaterra, pois a Itália, não demonstrou interesse por suas experiências. Em 1899, obteve sucesso na transmissão sem fio, do código Morse (desenvolvido por Samuel Morse em 1835, criador do telégrafo elétrico, dispositivo que utiliza correntes elétricas para controlar eletroímãs que atuam na emissão e na recepção de sinais), através do Canal da Mancha, baseado nos estudos de Nikola Tesla e nos testes de James Clerk Maxwell, que comprovavam as experiências de Heinrich Hertz, de 1888, confirmando que as ondas eletromagnéticas poderiam propagar-se no espaço. No Brasil acontecia a libertação dos escravos, pela Princesa Isabel. Funda a American Marconi, nos Estados Unidos, e continua fazendo muitas descobertas básicas na técnica rádio.
Em 1909, graças ao sistema de radiotelegrafia de Marconi, 1700 pessoas são salvas de um naufrágio. Já em 1912, a companhia de Marconi, já produzia aparelhos de rádio em larga escala, para serem utilizados em navios. Em 1915, durante e depois da Primeira Guerra Mundial assumiu várias missões diplomáticas em nome da Itália e em 1919 foi o delegado italiano na Conferência de Paz de Paris.
Como sabemos, para toda boa ideia surgem os concorrentes, no início do Século XX, o canadense Reginald Aubrey Fressenden, oriundo da Westinghouse, funda a National Electric Signaling Company, que fazia transmissões de voz, que batizou de Sistema de Telefone Sem Fio, depois Radiofone e por fim somente: Rádio. Assim como muitos bons inventores e péssimos administradores Fressnden faliu e suas patentes foram compradas pela Westinghouse.
Lee De Forest, físico e inventor americano, pesquisou componentes e aparelhos dedicados a gravação e reprodução de sons, além de instrumentos de aplicação na eletromedicina e na telefonia e desenvolveu o Audion, o primeiro tubo de vácuo no qual uma grade de controle (na forma de um fio dobrado) foi adicionada entre a placa do anodo e o filamento do cátodo. A grade de controle permitiu à De Forest modular a corrente entre o filamento e a placa, produzindo o primeiro amplificador eletrônico bem-sucedido. Trabalhou em pesquisas sobre eletricidade e propagação de ondas eletromagnéticas. Compôs uma tese sobre reflexão de ondas hertzianas, que é considerado um dos primeiros de que tratam, sistematicamente, sobre o fenômeno da rádio transmissão e rádio recepção. Em 1907, De Forest patenteou a válvula tríodo e desenvolveu um detector eletrolítico para ondas de rádio, transmitiu programas musicais, experimentalmente, para a cidade de Nova York, sendo uma das primeiras transmissões comerciais conhecidas, e reconhecidamente com audiência, embora acadêmica. Em 1908, transmitiu sinais radiofônicos do alto da Torre Eiffel, em Paris; que foi captada pelos postos militares da região, comprovando desta forma a possibilidade do rádio para fins bélicos. De Forest foi enganado duas vezes por seus próprios parceiros de negócios e, como outros, faliu e vendeu suas patentes para a (AT&T).
Essas descobertas abriram espaço para que várias outras empresas e um grupo, crescente, de operadores amantes do rádio (radioamadores) começassem a poluir o éter, incomodando as forças armadas, principalmente a marinha. Em 1912, O Congresso Americano aprova uma lei para organizar o espectro e cria a obrigatoriedade da Licença de Operação para Estações (Outorga). Nesse ano fatídico, ocorre o naufrágio do RMS Titanic, navio de passageiros britânico operado pela White Star Line, mostrando a importância da comunicação via rádio, através de um pedido de socorro (SOS) emitido pelo Titanic, o navio Carpathia, que estava próximo, recebeu o sinal de socorro e pode salvar vários náufragos.
Enquanto o mundo estava envolvido na Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), David Sanoff um jovem imigrante que havia trabalhado na Americam Marconi Company, em 1916, propôs um engenhoso uso para o novo meio de comunicação, sua proposta é que fosse utilizado como equipamento doméstico, para consumo de massa. Um belo dia, se encheu de coragem e encaminhou um memorando ao Vice-Presidente da Marconi Company, que ficou conhecido como “ O Memorando da Caixa de Música do Rádio”, em seu documento falava das possibilidades de fazer do rádio um aparelho de utilidade doméstica, levando música, jogos de beisebol, chegando a outras regiões e cidades distantes, a população adquirindo a “Caixa de Música”, poderia ouvir concertos, conferências, música, esportes, notícias, etc. E o que o VP achou ideia? Até hoje Sanoff aguarda a resposta do VP da Marconi.
Os anos passam, em novembro de 1919, é fundada a Radio Corporation of America – RCA, e David Sarnoff (ele mesmo o da Caixa de Música) vai trabalhar na RCA, onde teve uma carreira de grande ascensão. Na sequência, outras três corporações de grande porte se associam, a General Eletric (GE), no controle da RCA; a AT&T; a United Fruit e a Westinghouse, com foco de atuação na América Latina. Enquanto isso o nosso rádio está sendo gestado.
Em 1920, a Primeira Grande Guerra já havia terminado, o mundo respirava livre e buscava esquecer as dores da guerra e aproveitar a vida, com muita diversão. A Radio Corporaion of America, doravante RCA, encaminha um pedido para a linha de produção, da GE, das “Caixas de Música”. Pouco tempo depois, Frank Conrad, engenheiro da Westinghouse, coloca no ar os primeiros programas radiofônicos, na primeiríssima estação de rádio KDKA, em Pittsburgh, no oeste da Pensilvania. Sarnoff (ele mesmo) impulsionou, fortemente, o novo negócio do rádio, nascendo do dia para a noite, uma mania nacional, que depois se tornaria mundial. Até o final de 1920, só haviam sido emitidas trinta licenças de operação de emissoras de radiodifusão (Broadcast). Dois anos depois, mais de 100 mil receptores já tinham sido vendidos e duzentas novas emissoras licenciadas. Um novo mundo se abria para milhares de pessoas da cidade grande, das pequenas e das isoladas fazendas do interior do país.
No ano de 1922, o Brasil comemorava o seu Primeiro Centenário da Independência e muitos visitantes do interior e do exterior, participaram da Exposição Internacional do Centenário da Independência, no Rio de Janeiro, na época Distrito Federal e Capital da República.
No dia da abertura do evento, por volta das vinte e uma horas, ouviu-se a saudação sonora do Presidente da República, Epitácio Pessoa, transmitida por um transmissor de radiodifusão de 500 Watts de potência de operação, instalado no Morro do Corcovado, pela Westinghouse. O sinal irradiado era captado por receptores de rádio, estrategicamente, instalados para o evento em vários pontos do Rio de janeiro, São Paulo, Niterói e Petrópolis. Após o discurso do presidente, foram transmitidas óperas, diretamente, do Teatro Municipal.
Um ano depois, em 20 de abril de 1923, foi assinada a Ata de Fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, pelo médico e antropólogo Edgard Roquette Pinto e o astrônomo Henrique Morize, junto com seus colegas da Academia de Ciências. O objetivo primário da emissora era de transmitir programação, eminentemente, educativa. Seu lema era: “Levar a cada canto um pouco de educação, de ensino e alegria”.
A primeira rádio do Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, foi montada com os equipamentos da Westinghouse, utilizados na exposição e adquiridos pelo Governo Federal, sendo inicialmente, instalados na Escola Politécnica no Largo de São Francisco, centro do Rio de Janeiro. Logo depois foi transferido para a Torre da Casa Guinle, no início da Av. Rio Branco, depois para o pavilhão construído, pela antiga, Tchecoslováquia, para a Feira Internacional do Centenário. No prédio da Esplanada do Castelo a PRA-A (depois PRA-2) iniciou suas transmissões em 7 de setembro de 1923, transferindo-se depois para a Rua da Carioca, nº 45, centro do Rio de Janeiro.
A Rádio Sociedade era mantida pelos seus colaboradores, pois naquela época era proibido irradiar anúncios pagos. Desta forma, como pode se imaginar, se não tinha milho, não tinha pipoca. Roque Pinto, sem condição de manter a rádio, entrega a emissora para o governo. Ficando como colaborador. E assim o rádio passa do meio científico para o público.
O modelo da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi seguido por outras estações instaladas na capital e no interior do país. Essas emissoras usavam a qualificação de “Clubes” ou “Educadoras”, “Sociedades”, em seus nomes, pois eram mantidas pelas contribuições mensais de seus sócios (ouvintes/vibradores). Esse modelo de rádio no Brasil foi de 1923 até 1932, ainda não era um “negócio”. A programação das rádios se resumiam em: palestras, audições musicais (clássicos e óperas), notícias (lidas dos jornais – Gillette Press) e comentários.
A segunda rádio a ser fundada no Distrito Federal foi a Rádio Clube do Brasil (PRA-3), em 1924. A Rádio Educadora do Brasil iniciou suas operações em 1926, também a Rádio Mayrink Veiga (PRA-9), que operou até 1965, quando foi fechada pelo Governo Militar.
Em 1930, a Sociedade Rádio Philips (PRA-X), representante da fábrica holandesa de discos, receptores e transmissores de rádio inicia suas transmissões. A Philips, no entanto, desiste da emissora que é encampada pelo grupo do jornal "A Noite", "Noite Ilustrada" e "Revista Carioca" e transformada na famosa Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Em 1933, vai ao ar a Rádio Cruzeiro do Sul, onde dois anos depois surgem os primeiros programas de calouros. Logo depois a Rádio Jornal do Brasil (Rádio JB), e a dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand (Chatô), passam, também, a ocupar o seu lugar no Dial, aumentando a disputa já bastante acirrada.
Com a Revolução de 1930, Getúlio Vargas assume o poder, o país passa por profundas transformações. Para cumprir seu novo papel, o rádio cresce e se transforma, assim como, a indústria fonográfica. Contrata artistas e produtores, aumentando a concorrência entre as emissoras. Começa a profissionalização do rádio, os programas passam a ser organizados e redigidos por profissionais de outras áreas, como jornalistas, teatrólogos, artistas, publicitários, etc. Surgem os primeiros ídolos do rádio: Chico Alves, Carmem Miranda, Mário Reis, Vicente Celestino, Orlando Silva, Aracy de Almeida, Dircinha e Linda Batista, Ary Barroso, Noel Rosa, César Ladeira e muitos outros.
A partir do ano de 1931, o rádio entra em nova fase, com a aprovação da lei, que permite a exploração de comercial pelas emissoras. Nasce a publicidade no rádio, o departamento comercial, o patrocínio, o anúncio, o famoso “Um abraço para o meu amigo...”. Nasce o Jabá (Jabaculê).
Roquette Pinto foi um médico legista, professor, escritor, antropólogo, etnólogo e ensaísta brasileiro. Membro da Academia Brasileira de Letras, é considerado o Pai do Rádio Brasileiro. O dia 25 de setembro, data de seu nascimento, é comemorado o Dia Nacional da Radiodifusão. Um pouco do pensamento de Edgard Roquette Pinto:
“ Todos os lares espalhados pelo imenso território do Brasil receberão, livremente, o conforto moral da ciência e da arte; a paz será realidade definitiva entre as nações. Tudo isso há de ser o milagre das ondas misteriosa que transmitem no espaço, silenciosamente, as harmonias”.
"O RÁDIO É O JORNAL DE QUEM NÃO SABE LER, É O MESTRE DE QUEM NÃO
PODE IR À ESCOLA, É O DIVERTIMENTO GRATUITO DO POBRE"
Rui Miranda Monteiro
CREA-RJ: 51.059-D
Fontes:
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Direto de Washington – Washington Olliveto por ele mesmo – Editora Sextante – 2018;
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Comunicação do Grito ao Satélite – Histórias dos Meios de Comunicação – Antonio Costella – Editora Mantiqueira de Ciência e Arte Ltda – 1978;
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Rádio Nacional – O Brasil em Sintonia – Luis Carlos Sarolde e Sonia Virginia Moreira – Zahar Editora – 2005;
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O Século Dourado – A Comunicação Eletrônica nos E.U.A. – Sebastião Squirra – Editora Summus - 1995;
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Os Meios de Comunicações nos Estados Unidos – John Tebbel – Editora Cultrix – 1978;
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Metrópole à Beira-Mar: O Rio Moderno dos Anos 20 – Ruy Castro – Companhia das Letras – 2019;
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Carmen: Uma Biografia – Ruy Castro - Companhia das Letras – 2005.